Dando continuidade ao post da semana passada, PRIMEIRA ETAPA - PLANEJAMENTO E ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO, estamos finalizando este tema com esta publicação.
1 Coleta
A coleta alimenta a base de dados para confecção dos mapas temáticos e subsidia as estratégias com observação de táticas adequadas e que reflitam especificamente ao Plano de Emergência em estudo.
A coleta de dados pode ser realizada de duas formas:
Indireta: Levantamento através de documentos, fotografias, mapas existentes e dados de pesquisas.
Direta: Levantamento no local do Plano de Emergência a ser avaliado, utilizando GPS, formulários de campo e observação dos técnicos.
No primeiro instante é realizado um reconhecimento preliminar da área, com os seguintes objetivos: caracterização ambiental e confecção das composições, além do reconhecimento das principais feições geodinâmicas. O mapeamento indireto fornecerá os subsídios para fisiografia das regiões do Plano de Emergência em estudo e o mapeamento direto finalizará qualquer dúvida restante.
1.1 Processamento
Consiste no processamento dos dados coletados, através de cálculos ou outra forma qualquer de manipulação, de maneira a produzir as informações que alimentam o plano.
A análise estará voltada para a avaliação da possível magnitude, importância e intensidade dos impactos, definindo-se, a partir desses componentes, a significância dos danos ambientais relacionados a cada situação existente, buscando-se avaliar a evolução destes impactos desde o momento inicial do Plano de Emergência até o momento final. Também será registrada a dificuldade de atuação (não-atuação ou atuação limitada) devido a obstáculos ou situações limitantes.
2 Levantamento
Entende-se como levantamento o registro dos dados relevantes para atendimento às estratégias para o Plano de Emergência em estudo. No levantamento é que são verificadas as características do caminho até os pontos notáveis.
Em alguns Planos de Emergência, os caminhos mapeados são também referidos como ‘itinerários’ ou, ainda, como ‘roteiros’ e são identificadas nos formatos de “Mapa de Trajeto”, “Rotogramas” ou mesmo nos mapas temáticos georeferenciados.
O levantamento de uma ‘rota’ considera os seguintes itens:
- as localidades compreendidas (definição do caminho);
- os horários de maior movimentação na utilização;
- os ‘trajetos alternativos’ possíveis de ser percorridos, por horário e por tipo de veículos;
- os respectivos ‘veículos’ que podem fazer cada um dos trajetos;
- os ‘pontos de acesso ao Plano de Emergência’ para montar formações, carregar equipamentos, etc.;
- as equipes, equipamentos e outras situações de transporte;
- os segmentos do Plano de Emergência atendidos;
- o estado da pavimentação das vias que compõe a rota.
Numa mesma rota podem circular vários veículos ao mesmo tempo, alternadamente, realizando diferentes trajetos e atendendo diversos pontos de acesso.
2.1 Composição Estrutural
Em termos estruturais (conjunto de elementos), um levantamento é configurado por um trajeto principal (“tronco”), por “galhos/ramificações”, “trechos” e “complementos do tronco”.
Tronco principal: é o caminho principal percorrido por uma rota. É a partir do qual geralmente os equipamentos são transportados. Pode conter ‘galhos’ou ‘ramificações’ e/ou ‘complementações’, considerados como atalho para veículos mais preparados ou mesmo para acessar a pontos estratégicos do Plano de Emergência.
Ramal/Galho/ramificação: é o trecho da rota utilizado pelos veículos para levar ou buscar equipamentos a partir de um tronco. Em geral, o galho/ramificação é caracterizado por um desvio de percurso que sai e retorna ao mesmo ponto de um tronco/rota. Mas pode haver exceções e a saída e retorno de um galho/ramificação ser realizada em pontos diferentes de um tronco.
Complemento de tronco: é uma variação do tronco principal utilizada em horários específicos ou por veículos diferentes daquele que foi objeto de levantamento. É a diferença de trajeto ocorrida em uma mesma rota.
Trecho do Tempos de Atendimento: é a parte do percurso da rota compreendida entre a Equipe de Atendimento e o local onde o KIT1 deve chegar para o primeiro combate. Em algumas rotas, o Trecho do Tempos de Atendimento chega a ser maior que o limite de raio para levar os equipamentos ao ponto inicial, estas situações exigem cuidados específicos no atendimento.
Por ocasião do atendimento ao Plano de Emergência, pode ocorrer que o ‘Trecho do Tempo de Atendimento’ esteja considerado no próprio ‘tronco’ do levantamento.
2.2 Tempos para Mobilização dos Recursos
Os tempos para mobilização dos recursos no Plano de Emergência devem levar em consideração a cronologia estimada dos eventos da contingência.
Os Planos de Emergência devem prever mobilizar rapidamente os recursos humanos e materiais, objetivando reunir esses recursos para o atendimento em tempo hábil para reduzir ao máximo possível os riscos da emergência.
Todo processo de exploração da área do plano em estudo deve ter como premissa básica a sua factibilidade, fundamentada na existência de meios reais ou passíveis de mobilização, dentro das condições de tempo e espaço avaliadas e levantadas no planejamento.
O tempo para mobilização de recursos deve ser o necessário e suficiente para apoiar o pronto emprego das equipes para enfrentar as situações iniciais previstas no plano. Após a avaliação inicial da emergência, a configuração da mobilização poderá ser complementada para garantir o apoio a operações que envolvam uma maior duração e/ou envergadura.
2.3 Elementos de Pontos
2.3.1 Pontos Notáveis
É cada um dos lugares que servem de referência, aqueles onde existam objetos a serem identificados, ex.: pontes, cancelas, porteiras, dutos, ponto zero, etc.
Um mapeamento pode conter, necessariamente, os seguintes tipos de pontos notáveis:
Ponto do Tempo de Atendimento Inicial: é o ponto destino, aonde o primeiro veículo (qualquer que seja sua natureza – terrestre ou hidroviário) deve chegar para avaliação da emergência e tomada das primeiras ações de resposta.
Ponto Zero: é o ponto origem da emergência. É o ponto onde o vazamento tem início.
Ponto Origem: local onde a equipe de atendimento está situada.
Pontos de Apoio Operacional: pontos onde podem ser colocadas formações de apoio a emergência.
Pontos de Apoio Logístico: pontos onde podem ser realizadas as tarefas de apoio logístico ao Plano de Emergência.
Pontos de Referência: pontos de interesse para localização por servirem de referência.
Pontos de Acessos: pontos que possam conduzir aos locais definidos como estratégicos para o Plano de Emergência em estudo.
Pontos de Atenção: é todo e qualquer ponto capaz de chamar a atenção no caminho.
Pontos de Parada: é todo e qualquer ponto de um trajeto no qual seja feito algum tipo de parada, seja sinaleira, barreira eletrônica, pedágio, fiscalização da polícia.
Obstáculos: é todo e qualquer ponto que possa atrasar ou em algumas situações interromper o trajeto.
2.3.2 Objetos Notáveis
No mapeamento podem ocorrer alguns objetos notáveis de interesse para levantamento, tais como:
Ponte: Obra construída em aço, madeira, cimento armado etc. para estabelecer comunicação ao mesmo nível entre dois pontos separados por um curso de água ou qualquer depressão do terreno.
Viaduto: Via ou espécie de ponte apoiada em grandes arcos, geralmente de concreto ou aço, construída para transpor vales ou outras grandes depressões de terreno, ou para sobrepor-se a uma outra via (rodovia ou ferrovia).
Mata-burro: fosso construído à entrada de uma propriedade, geralmente dotado de um pontilhão de traves, dispostas paralelamente e espaçadas, que visa impedir a passagem de animais, sobretudo de equinos e gado bovino.
Colchete: porteira rústica feita com arame farpado esticado por mourões leves, fechada por um pau roliço cujas extremidades são enfiadas em argolas de arame.
Porteira: largo portão, não muito alto, que fecha a entrada de fazenda, sítio etc.; cancela. Podem ser de variados tipos de materiais. Não confundir com colchetes.
Local de descarga dos equipamentos: todo e qualquer local para descarga do tipo de veículo (pick-up, caminhão munck, barco, lancha etc.) que esteja sendo utilizado no Plano de Emergência para os serviços de transporte de equipamentos.
Semáforo: também conhecido popularmente como sinal, sinaleira e farol - é um instrumento utilizado para controlar o tráfego de veículos e de pedestre nas cidades. É composto geralmente por três círculos de luzes coloridas.
Redutor Eletrônico: os famosos pardais, onde é obrigatória a redução de velocidade na passagem pelo mesmo.
Área de escape: é o espaço de circulação existente à margem da pista de rodagem dos veículos (estrada, caminho) que serve para que os motoristas possam parar ou estacionar sem causar problemas para o trânsito dos demais veículos. Nas áreas rurais estas áreas de escape podem ser determinadas por “entradas” na margem das estradas nas quais os veículos estacionam ou param liberando a passagem para outros veículos que porventura trafeguem pela mesma via.
2.4 Elementos de Linha
2.4.1 Itinerário
É cada caminho viário a ser percorrido para atender à logística de uma estratégia, podendo conter diversos desvios do tronco principal, observando os pontos de passagem para aproveitar ao máximo o veículo.
- Numa mesma viagem são possíveis vários itinerários diferentes.
- Para cada veículo há pelo menos um respectivo itinerário, conforme os objetivos estratégicos traçados.
- Ao longo do dia, um mesmo veículo pode atender a vários itinerários;
- Os itinerários podem diferir na ida e na volta.
- Os veículos podem trafegar por itinerários sobrepostos, em parte ou no todo.
- Em termos de estratégia, as diferenças entre itinerários dão origem a trechos complementares que serão levantados de modo específico.
2.4.2 Viagem
É a soma de todos os itinerários, de ida ou de volta. É cada um dos percursos de ida ou volta a ser realizados pelos veículos, desde a Equipe de Atendimento (geralmente do pátio de estoque de materiais ou local onde os equipamentos estejam alocados) até ao local de destino (geralmente o ponto zero ou algum dos pontos de apoio). As viagens também podem ser feitas com início diretamente dos fornecedores do material a ser transportado.
No levantamento para realização do mapeamento, prevê-se que a malha viária esteja coberta em seu tronco principal e inclusive sejam observadas as respectivas complementações (‘trecho do Tempos de Atendimento’, ‘galhos/ramificações’ e ‘complementos de tronco’).
2.4.3 Trajetos
Em cada programação de transporte, os trajetos comportam duas viagens (uma de ida e outra de volta). É cada um dos percursos a serem realizados pelos veículos para atendimento ao Plano de Emergência, em pontos estratégicos do atendimento. Um mesmo trajeto pode ser percorrido por várias equipes, com os mais diversos objetivos.
2.4.4 Malha Viária
É o conjunto de trajetos (ruas, estradas e caminhos) pelos quais os veículos podem trafegar. Ele abrange todos os trajetos realizados pelos diferentes veículos dentro de suas características e limitações. Em termos estratégicos, o mapeamento visa principalmente o levantamento da malha viária para atender à logística da estratégia.
A malha viária é a soma de: ‘tronco principal’, ‘complementos’, ‘galhos/ramificações’ e, se for o caso o ‘trecho do Tempos de Atendimento’.
3 Produtos do Mapeamento
3.1 Caderneta de Campo
É o caderno de anotações entregue aos técnicos da equipe, destinado às anotações dos fatos e eventos não normais ocorridos em campo. Entende-se por fato/evento não normal àqueles que porventura criem algum tipo de dificuldade para o bom andamento dos trabalhos e/ou para o registro dos dados a serem coletados.
Por exemplo, serão registrados fatos tais como:
- comentários feitos pelos técnicos, observação dos equipamentos sobre procedimentos inadequados verificados no mapeamento;
- etc.
Os registros serão datados, ou seja, cada anotação corresponde a uma respectiva data.
A caderneta de campo será devolvida a Equipe de Consolidação do Plano de Emergência ao final do processo, com as respectivas anotações de campo.
No caso de o levantamento dar continuidade com outro técnico, a caderneta de campo será transferida junto com os demais materiais.
3.2 Rotograma
No Rotograma a leitura sempre é feita da parte inferior para a superior, alusiva ao defronte do motorista para o percurso. Para evitar que os problemas de algumas rodovias acabem em acidente, no levantamento de campo elabora-se o rotograma da rota tronco e das rotas alternativas cujo trajeto possa ser intensamente utilizado. Nesses casos, podem ser evitadas as estradas cujos problemas possam intervir no tempo de atendimento. Também podem ser excluídas da rota as vias ou áreas densamente povoadas ou de proteção. O rotograma ou roteiro linear inclui, ainda, o resumo das informações sobre a rota escolhida, como distância, tempo de viagem, velocidade média, quantidade de pedágios e descritivos das rodovias, como extensão dos trechos e tipo de pavimento. Outras informações importantes ao longo da rota também são classificadas, como as cidades mais próximas ao longo das rodovias – a prioridade é para cidades maiores –, além de dados sobre serviços e paradas ao longo da estrada, balanças, postos fiscais, polícia rodoviária e divisas estaduais. Tudo isso para que o veículo possa chegar ao destino da forma mais segura possível.
3.3 Mapa do Trajeto
O mapa do trajeto em setores não segue a escala real para apresentação, sendo sempre um diagrama esquemático de pontos importantes do percurso nas vias de acesso ao objetivo. Do percurso total, dividi-se em setores de importância para melhor representação e entendimento. Ao completar o trajeto de um setor, procede-se para o próximo setor até atingir o objetivo final. É popularmente conhecido também como “Mapa de Churrasco”.
3.4 Dados Georeferenciados
Na prática, o levantamento de campo consiste no desenho/coleta de pontos (waypoints) e linhas (tracklogs) no local do Plano de Emergência em estudo. Na formatação destes dados que a Equipe de Consolidação do Plano de Emergência cria a Base de Dados Georeferenciada para realizar as análises espaciais e confeccionar os mapas que irão compor a estratégia de resposta do Plano de Emergência crítico em estudo.
Trabalhos que envolvem o estabelecimento de estratégias de atuação em um local de interesse requerem um bom diagnóstico da área, o qual deve abranger a caracterização da região, bem como as inter-relações entre diversos fatores, possibilitando a compreensão de sua dinâmica. É grande a quantidade de informações necessárias para se chegar a uma estratégia realmente eficaz, bem como é difícil sua manipulação se não se dispuser de um sistema organizado e, preferencialmente, informatizado, que auxilie nessa tarefa.
Os esforços no sentido de espacializar os dados são de fundamental importância a trabalhos aplicados e multidisciplinares, permitindo cruzar e integrar informações, e criar panoramas de situações reais ou de situações previstas, portanto, favorecendo o desenvolvimento de estratégias de resposta.
Na próxima segunda-feira falaremos da segunda etapa.
Saudações estratégicas.
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Cesar Costa
Especialista em Estratégia de Resposta
Email: cesarcosta.job@gmail.com
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