segunda-feira, 1 de agosto de 2011

PLANEJAMENTO DE SOBREVÔO DE LOCALIZAÇÃO EM INCIDENTES COM HIDROCARBONETOS


As informações de emergências ambientais de vazamento de hidrocarbonetos nem sempre chegam de uma forma precisa, principalmente quando a mesma está se deslocando e nem sempre temos como estimar as coordenadas precisas da mancha.
O planejamento do sobrevôo é a fase da qual depende o êxito ou o insucesso de toda a operação de localização e identificação, pois se refere, principalmente, à determinação da área onde será procurado o produto vazado. E há um enorme desperdício de tempo quando não são empregadas as técnicas mais adequadas de localização da mancha ou mesmo se o sobrevôo não for direcionado para a ÁREA DE PROBABILIDADE INICIAL onde se encontra o produto vazado se deslocando. Podemos concluir que o ponto mais crítico é a determinação da extensão dessa área; devendo ser suficientemente grande para garantir que a localização real do produto esteja nela contida e de ser suficientemente pequena para ser coberta rápida e eficientemente dentro do limite da autonomia da aeronave utilizada.

ESTIMATIVA DAS COORDENADAS GEOGRÁFICAS DA ÁREA DE PROBABILIDADE INICIAL

Através do cálculo da deriva, pode-se estimar a provável posição de uma mancha de hidrocarbonetos, desde que sejam conhecidos os dados de vento e corrente da área onde foi visualizada. A posição informada ou a origem (Ponto 0) da mancha e seu respectivo momento de visualização são pistas importantes porque descartam todas as possibilidades anteriores. Também indicam a rota provável da mancha e sua velocidade de deslocamento. Se houver o conhecimento da origem e o momento inicial do incidente, esta informação permitirá que o cálculo da deriva seja realizado com uma maior precisão.
Não é aconselhável realizar um sobrevôo sistemático em uma área muito extensa devido à autonomia da aeronave. Portanto, o ideal é estudar uma ou mais hipóteses ou série de acontecimentos conhecidos além das suposições que haviam sido consideradas, que possam explicar como estaria se deslocando a mancha desde a última vez que foi visualizada. Cada hipótese deve ser coerente com o caso e deve permitir o estabelecimento de uma referência geográfica correspondente ao lugar em que haja maior probabilidade de se encontrar a mancha. Esta referencia pode ser um ponto, uma linha, ou uma área correspondente à trajetória da mancha, sendo calculados, primeiramente, a partir dos dados de vento e corrente conhecidos sobre a região ou, possivelmente, a partir de informes de localização conhecidos que podem originar uma DERIVA REAL do deslocamento da mancha.

Por exemplo:

a) uma mancha foi visualizada 10h30min, nas coordenadas “X” e “Y” do Ponto A, depois foi vista novamente 13h00min, nas coordenadas “X1” e “Y1” do Ponto B. Determinando-se a DERIVA REAL, do ponto A ao B , correspondente a 3 milhas náuticas e azimute de 180 graus, em duas horas e meia de deslocamento, tem-se a deriva real de 1,2 nó sentido Sul do local da primeira visualização da mancha; ou,

b) uma mancha foi visualizada 10h30min, nas coordenadas “X” e “Y” do Ponto A, com vento vindo a 10 nós do sentido Norte (360º) e corrente indo a 0,9 nó do sentido Sul (180º). Determinando-se a DERIVA ESTIMADA, obtemos as coordenadas projetadas da mancha, fazendo a conversão do vento de vindo para indo (inversão do sentido) e utilizando 3% de sua velocidade (fator de influência do vento na deriva).

A DERIVA REAL da mancha coincidirá com a DERIVA ESTIMADA se o erro dos dados informados for nulo, o que constitui um fato raríssimo. Considerando-se que a DERIVA REAL é obtida sempre em função das informações da localização da mancha, deve-se dar preferência à projeção realizada com base nestas informações para a definição da ÁREA DE PROBABILIDADE INICIAL a ser utilizada no planejamento do sobrevôo.

POSSIBILIDADE DE ERRO DE LOCALIZAÇÃO ESTIMADA

Mesmo quando se tem a posição correta da mancha, há de se levar em conta certa margem de erro de posição baseada na forma de obtenção das coordenadas, formato da disposição das informações (é possível que dados sejam informados de uma forma e registrados como de outra) e na distância percorrida desde a última visualização conhecida. O erro provável de posição se define como um raio de um círculo em que há uma probabilidade maior de se encontrar o lugar para onde se deslocou a mancha. Quando a posição é obtida por um método preciso, caracterizando uma POSIÇÃO CONFIÁVEL, o erro provável de posição deve ser considerado de cerca de 10 milhas náuticas para aeronave e 5 milhas náuticas para embarcação. Quando a posição é obtida através de uma trajetória projetada, sendo calculada com base em uma DERIVA ESTIMADA ou REAL, é adicionado ao erro provável de posição um valor calculado em função da distância percorrida a partir do fixo anterior, devendo ser considerado de 10% dessa distância para aeronaves e de 5% para embarcações. Este erro tende a ser maior em proporção inversa a confiabilidade da informação utilizada como base para cálculo da estimativa de deriva.

MEDIDAS DE COORDENAÇÃO E CONTROLE NO PLANEJAMENTO DO SOBREVÔO

a. Rotas do sobrevôo - Determinadas com base nos dados existentes baseado em navegação a alturas preestabelecidas, balizadas por pontos previamente estabelecidos (informes visuais ou deriva projetada). São utilizadas nos deslocamentos para a área da emergência, articulando o início da busca, executando o vôo a baixa altura ou vôo de contorno do local, conforme a análise da situação.
b. Itinerários do sobrevôo - Determinam o deslocamento da aeronave, baseado em itinerários previamente traçados em mapas estratégicos, normalmente, de escala entre 1/5.000 e 1/10.000, os quais procuram valer-se da logística de reabastecimento para ampliar a autonomia do sobrevôo em locais mais distantes. São utilizados a partir da análise do ponto de partida da aeronave e caminho a ser percorrido visando seu reabastecimento e continuidade das buscas em períodos mais longos.
c. Itinerários de localização e de avaliação - Utilizados para a aproximação e reconhecimento da área atingida em uma emergência, respectivamente, empregando o vôo de uma forma otimizada para diminuir o tempo das buscas e tomar providências de combate em tempo hábil.
d. Linha de averiguação - É uma medida de coordenação e controle representada por uma linha contínua, traçada que representa o sobrevôo e os locais onde a aeronave deve passar na busca da mancha. Caracteriza-se, para a coordenação da emergência, como uma relação dos pontos mais prováveis para ir de encontro à mancha, consiste em locais para visualizar a mancha e realização o vôo a baixa altura dentro das possibilidades permitidas pelo piloto sem ir de encontro às medidas de segurança da aeronave.
e. Zonas de reunião de planejamento e de comunicação - Utilizadas para a tomada de decisões e comunicação com a coordenação da emergência.
f. Itinerário estatégico de combate - Determina por onde os recursos devem deslocar-se entre a localização atual e a posição da mancha.

INÍCIO DE SOBREVÔO DE LOCALIZAÇÃO DE UMA MANCHA CUJA POSIÇÃO SEJA DESCONHECIDA

Após todo o planejamento do sobrevôo os seguintes procedimentos deverão ser seguidos:

a) quando a Coordenação da Emergência for informada da existência de uma mancha e não souber se existem recursos disponíveis nas proximidades, deverá assumir a responsabilidade de iniciar as ações pertinentes e consultar os recursos alternativos mais próximos com o objetivo de designar um grupo de operações que assuma a responsabilidade inicial de combate ou o monitoramento da mancha;

b) a menos que outra decisão seja tomada em comum acordo entre os Grupos de Operação envolvidos, o Comando da Coordenação deve garantir meio ou procedimento que possibilite a comunicação constante com o sobrevôo de busca onde serão realizados relatórios periódicos da situação e repassados informes tais como:

− Região na qual a mancha foi vista pela última vez;

− Região para a qual a deriva estava seguindo quando seu último cálculo, traçando uma linha de averiguação a ser seguida;

− Informações sobre a existência de recursos disponíveis ou alternativos para tomadas de medidas de combate; ou

− Dados meteoceanograficos, de imagem de radar ou qualquer outro meio disponível que sejam relevantes para a segurança ou efetividade do sobrevôo ou atuação nas buscas e no combate.

c) após a fase de emergência ter sido declarada, a Coordenação da Emergência deve definir os períodos de contatos diários do Operador do Sobrevôo com a Coordenação, garantindo atender aos compromissos que haja assumido de periodicidade de repasse de informações e relatórios de atendimento, onde serão passadas todas as circunstâncias da emergência e desdobramentos subseqüentes. Da mesma forma, a Coordenação da Emergência passará ao Operador do Sobrevôo os dados pertinentes que vier a tomar ciência de qualquer informação pertinente à emergência, deverão ser estabelecidas as estratégias a serem seguidas, seja a continuidade ou a alteração dos planos previamente concebidos.

Sempre que aplicável, a Coordenação de Emergência responsável pelas ações do sobrevôo de busca deverá repassar para os Órgãos dos Serviços de Tráfego Aéreo, responsáveis pela Região de Informação de Vôo na qual a aeronave esteja operando, as informações de caráter urgente a respeito das operações iniciadas com o objetivo de que o órgão cientificado transmita tais informações a essa aeronave.

ÁREA DE PROBABILIDADE CORRIGIDA

Ao iniciar as providências de busca na ÁREA DE PROBABILIDADE INICIAL, a Coordenação da Emergência deve adotar também a hipótese da mancha objeto da busca estar na margem da POSSIBILIDADE DE ERRO DE LOCALIZAÇÃO ESTIMADA e estar fora da área prevista inicialmente. O procedimento a ser tomado paralelamente às providências normais já iniciadas, deve se constituir num trabalho de investigação ordenado, metódico e tão amplo e profundo quanto possível. As condições meteorológicas reinantes na área e no período relativo ao incidente devem ser estudadas com o máximo de detalhamento; informações adicionais sobre o vento e a corrente predominantes devem ser obtidas; investigações sobre os informes da mancha devem ser procedidas; consultas às unidades operacionais na região devem ser realizadas, bem como contato com pessoas que possam dar quaisquer informações. Todas as informações são importantes e devem ser organizadas, analisadas, comparadas, avaliadas, selecionadas e aplicadas. O produto desse trabalho, normalmente conduz à configuração de área ou áreas de probabilidade contidas ou não na área inicialmente prevista, constituindo o que se chama de ÁREA DE PROBABILIDADE CORRIGIDA.


Saudações estratégicas.
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Cesar Costa
Especialista em Estratégia de Resposta
Email: cesarcosta.job@gmail.com

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